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sexta-feira, 27 de março de 2009

Sérgio Lemos - Pintura




Sérgio Lemos
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Razão e Sensibilidade


Apesar das inúmeras tentativas para o desmonte, exclusão e até mesmo a extinção das “tradicionais” formas das artes como a pintura, a escultura e o desenho numa nova classificação de Artes Plásticas inicialmente pelo Movimento Dadá e outros que vieram a seguir como: A arte conceitual, a Pop Art, a Minimal Art, as Performances e as Instalações, entre outros, essas formas ditas “tradicionais” continuam resistindo e para tristeza de alguns “profetas” elas continuam vivas e atuantes para criadores e público. Em qualquer país do mundo é visível a “resistência” dessas formas “tradicionais” perante esse desmonte meramente conceitual. Para o grande público esse tipo de “Arte” que considera a idéia, o conceito por trás de uma proposta ou projeto como sendo superior ao próprio resultado final e que este pode até ser dispensável, como apregoam os defensores da Arte Conceitual tão agressiva a partir de 1960, não surtiu nem surte o efeito por eles esperado. Considerar a montagem de uma cenografia como uma obra dentro da classificação de Arte Plástica, não tem para esse público, pelo que se observa e se ouve, nenhum sentido. Paradigma quase geral de muitos “artistas contemporâneos”, esses projetos rotulados como “Instalações ou Propostas” vieram ocupar o topo da onda e do modismo atual sempre com a supervalorização do conceito por meio de textos, fotos, cópias digitais, diagramas, fitas e discos de áudio, ausência de algo, etc. Tudo isto e até a exibição de corpos desesperados em streapteases selvagens e agressivos, etc, serviam para transmitir angustiados “significados” nessas “performances” totalmente incompreensíveis para outros que não os próprios criadores de tais ações que tentavam dizer que o fim justificava o meio. Ou seja, o nada era a própria arte... Ou ainda que “Tudo é Arte”. Porém, essa “arte” que para os próprios criadores e os seus epígonos ávidos de ilusórias celebridades já demonstrava pela sua origem que já era tão “velha” quanto a sua idéia surgida com Marcel Duchamp, há 90 anos.

DUCHAMP (Marcel), pintor francês (Blainville, 1887 – Neuilly-sur-Seine, 1968). Que inicialmente foi influenciado pelo cubismo, teve depois participação importante no Movimento Dadá e no Surrealismo. Posteriormente ao fixar-se nos E.U.A., dedicou-se à "antiarte" e em 1914 criava o primeiro ready-made. Suas “pesquisas e invenções” viriam a exercer influência na "pop-art" e em outros tipos e ismos das artes plásticas.

Opostos a tais performancistas, instalacionistas, coisistas e nadaistas, muitos artistas plásticos continuaram artistas plásticos. Não seguindo a via desses não-sabem-o-que-são-istas, se pintores, artesãos, cenógrafos, streapes, exibicionistas, artistas, não-artistas, anti-artistas, ou algo não identificados por uma etimologia qualquer, as Artes Plásticas continuaram se enriquecendo com os trabalhos de centenas de pintores, escultores e desenhistas para encantamento de jovens e não jovens, alheios a essa angústia pelo o inexistente ou o delírio. Portanto, indiferentes a uma forma de encarar a arte que se espalhou pelo mundo e que abarcava diversas manifestações artísticas, a partir de 1960, quando o conceito passa a se sobrepor ao objeto artístico, ou seja, à própria realização artística.

A esse radicalismo da arte conceitual como o ponto alto da modernidade cultural nos últimos anos do século XIX e início do século XXI, tanto no Brasil como no exterior, Sérgio Lemos, entre tantos outros, deu continuidade a sua busca com razão e sensibilidade, indo buscar na cultura pernambucana, naquilo em que ela tem de mais fascinante e próprio num dos seus temas mais populares - os papa angus, a via do seu caminhar estético e até lúdico da sua pintura. A fase atual de Sérgio Lemos, por enquanto, é o coroamento de uma busca iniciada na década de 70 através das luzes e das cores das frutas tropicais pernambucanas e nordestinas dos seus exuberantes jogos frutais. Na sua linguagem atual vemos que a sensibilidade supera a razão da arte conceitual e a sua própria da fase anterior circunscrita que era a um geometrismo que aprisionava o desenho, o tema e o autor dos seus jogos frutais. No momento atual, o artista incorporou definitivamente as raízes da cultura pernambucana a sua arte, tanto quanto o fizeram Lula Cardoso Ayres, José Cláudio, Abelardo da Hora, Francisco Brennand, Vitalino, Capiba, Nelson Ferreira, Marcos Acioly, Olímpio Bonald, Manoel Bandeira, Carlos Pena Filho, João Cabral de Melo Neto, Austro Costa, Mauro Mota e Audálio Alves, entre outros, nas diversas formas de Arte.

Transitando de uma pintura matérica que se tornara emblemática dos seus jogos frutais como disse Jomard Muniz de Brito e outras fases anteriores, Sérgio Lemos utilizando diversos suportes como a tela de linho, o cartão duro e o cartão ondulado, diluiu tintas e amaciou as pinceladas, sem, no entanto, abrandar a força e o sabor do desenho, da cor e da composição, apenas tornando mais encorpadas as suas propostas tal e qual os bons vinhos originários de boas cepas. Aliás, Sérgio, um enólogo amador e fiel degustador de bons vinhos, originários principalmente da região do Douro e recentemente da região vinícola pernambucana do São Francisco, sabe como poucos dosar e encorpar as suas tintas e cores. A alegria das cores da fase anterior aflorou mais intensa e dramática nas figuras dos papa angus mascarados, deformados e surreais, aliás, mais reais e humanos do que a própria anatomia natural do homem. Por trás das máscaras estamos nós nesses seres renascidos das suas telas e por serem arquétipos são mais fortes, expressivas e consequentemente mais tragicômicas e universais, não obstante representarem visualmente uma cultura regional de origem popular. Em nenhum outro momento o ser humano se revela mais verdadeiro e livre do superego e dos outras amarras do que no carnaval quando ele solta seus, popularmente ditos: cachorros e demônios. Livre de cadeias e correntes os papa angus de Sérgio Lemos nos convida para uma nova leitura ou viagem pelos labirintos da mente de cada um e das raízes da cultura pernambucana.

Não sei ao certo se a obra de Sérgio Lemos seja merecedora de alguma importância para aqueles que desdenhando do corpo físico e visual do objeto artístico passaram a cultuar o vácuo e a ausência, só sei mesmo que para nós outros, os seus trabalhos preenchendo esse mesmo vácuo e essa mesma solidão e incomunicabilidade nos dão ciência das inúmeras e infinitas possibilidades do fazer artístico. Sedutora para aqueles que desconhecem ou desprezam o conhecimento e o domínio técnico do fazer artístico, a proposta conceitual seja tão somente o não-ser-sendo da banalidade e da futilidade dos cultores do nada, do imaterial. Paradoxal e polêmico é esse universo criado por esses cultores do happenings, da instalação e dos multimeios. Filhos da land-art e da arte povera e ao mesmo tempo herdeiros de uma sucessão de propostas estéticas como o cubismo, dadaísmo e outras, é realmente um paradoxo que eles neguem a possibilidade da arte e eleja o ideário anti arte como o supra-sumo da verdade. Ante essas Proposições de Arte sem obra de arte é que nascem, existem e produzem muitos pintores, escultores, desenhistas e gravuristas como Sérgio Lemos, Raul Córdula, Maria Carmen, Teresa Costa Rego, Jairo Arcoverde, Montez Magno, Plínio Palhano, Luciano Pinheiro, Ana Veloso, João Cãmara, Ana Gonçalves, Samico, Zé Cláudio, Ana Vaz, Vila Nova, Chico Dantas e tantos outros artistas plásticos em Pernambuco, no Brasil e no exterior.

Marcos Cordeiro
Olinda, Janeiro de 2009-01-07

2 comentários:

  1. Olá Marcos!
    Sou estudante, e pesquiso sobre Sergio Lemos e os Papangus. Vc poderia enviar ou indicar material de pesquisa sobre eles. Se tiver o contato do Sr. Lemos (blog, facebook) agradeço.
    Sem mais,
    Tatiana Lima

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  2. Se é o autor do livro Os Papangus, escrito por Marcos Cordeiro e comentado por Montez Magno, ilustrado com as pinturas de Sérgio Lemos, que inclui informações sobre a origem dos papangus, gostaria de saber onde ele está à venda. Eliana Queiroz

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