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sábado, 4 de abril de 2009

Alberto da Cunha Melo - Antologia de Poetas Pernambucanos

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Antologia de Poetas Pernambucanos

6 - Alberto da Cunha Melo
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Anáforas
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A palavra sabe doer,
quando esfria o sangue no rosto,
assim de surpresa, navio
atropelando o próprio porto;
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sabe degolar a sereia:
chamar de gorda a mulher feia;
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sabe emudecer os aplausos
que aconteceram anteontem,
depois de décadas de atraso;
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sabe matar pelo distrito,
sem deixar marcas do delito.
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DEPOIMENTO
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"Um de nós sente tanto medo,
abre tanto os pequenos olhos,
que consegue ver e chorar
a mais longínqua ingratidão"
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Conheci Alberto na década de 60 quando da publicação do seu livro Círculo Cósmico. Porém, foi somente na Fundação Nabuco, onde fui trabalhar como Programador Visual, que eu passei a conhecer e a conviver mais intensamente com ele e com muitos outros poetas seus amigos. Colega de trabalho e até mesmo adepto dos mesmos ideais estéticos e políticos, passei a conviver com muitos intelectuais que trabalhavam na Fundação como: Mauro Mota, Mário Souto Maior, Valdemar Valente, Raquel Caldas Lins, Sebastião Vilanova, Renato e Maximiano Carneiro Campos, Frederico Pernambucano, Clóvis Cavalcanti, Roberto Aguiar e, é claro, o mestre Gilberto e o seu filho Fernando Freyre. Além desses escritores e pesquisadores famosos, a Fundação também abrigava nos seus quadros muitos outros escritores jovens como Jaci Bezerra, Sérgio Bernardes, Arnaldo Tobias - editor do jornal alternativo "Protesto", Sérgio Moacir de Albuquerque e outros. Com eles, então, passei a frequentar os mesmos locais que eles pontificavam, além de outros poetas como Domingos Alexandre, Ângelo Monteiro, José Mário Rodrigues, Antônio Leal, Almir de Castro Barros, Montez Magno e outros que também marcavam as suas presença para animados bate papos, discussões políticas e muita poesia regada a cerveja e chope, como a Livro 7, o Bar Mangueirão em Apipucos, o Bar do Posto de Gasolina e o Bar O Pirata em Casa Forte, o Bar do Maruim no Poço da Panela, o Bar Beer House da Rua 7 de Setembro, o Bar Mustang, o Bar da Livro 7 e em muitos outros do centro do Recife. Foi precisamente nesses lugares onde mais eu convivi com a bondade, o humanismo, a humildade e o talento de Alberto da Cunha Melo. Com ele aprendi a ser mais humano e humilde e, pasmem, aprendi a escrever poesia, pois segundo ele dizia: eu já a sentia nos meus quadros e desenhos. Posso explicar: nas muitas vezes que nos encontrávamos em qualquer um desses bares, juntamente com Roberto Aguiar, (de saudosa memória), Jaci Bezerra, José Mário Rodrigues, Ângelo Monteiro, Lucila Nogueira, Odete Vasconcelos, Montez Magno, Almir de Castro Barros, Domingos Alexandre, Sérgio Bernardes e Arnaldo Tobias, entre outros, fazíamos, frequentemente, poemas coletivos, a três, quatro, cinco ou mais mãos. Dependendo do número dos presentes que quisessem participar da brincadeira. Cada um deles escrevia um verso. No final havíamos "cometido um poema". Muitas dessas composições eram publicadas por Jaci no "O Punho". Um jornalzinho alternativo, mimeografado, (não havia ainda os computadores de hoje em dia com as suas impressoras magníficas e práticas), e que circulava entre nós. Creio que devem ter sido publicados uns dez números. Todos eles eram também ilustrados por nós mesmos e por muitos artistas plásticos como João Câmara, Montez Magno, Sérgio Lemos, Paulo Bruscky e outros que dividiam conosco a alegria de viver e beber todas, naqueles anos setenta e oitenta. Tempos de muita esperança, alegria, idealismo, amor livre e também de reflexões sobre política e ética, essas últimas já um tanto escassas naqueles dias. Talvez "O Punho" tenha sido a semente do futuro Movimento Editorial comandado por Jaci e que revelou muitos escritores, até então inéditos, para Pernambuco e "para o Mundo"- as Edições Pirata.
Com o fim da Ditadura, vieram as "Diretas já" em todos os níveis. Eleições de democratas e muitos outros acontecimentos, uns bons e outros maus como o encerramento das atividades de Tarcísio Pereira a frente da "maior" Livraria do Brasil, que marcou o fim da efervescência cultural da Rua 7 de Setembro, dispersando então, a maioria dos frequentadores daquela Rua onde se respirava esperança, cultura, amor, liberdade e literatura. Uns mudaram do Recife, outros se aposentaram, alguns morreram e outros renasceram. Felizmente, alguns continuaram se encontrando já em outros bares e livrarias do centro, porém, sem mais a mocidade, o charme e o encanto daqueles anos de resistência intelectual e política ao autoritarismo. Entre esses sobreviventes, estavam Alberto, Domingos Alexandre, Almir, José Mário Rodrigues, Bione e mais alguns novos agregados. Após muitas mudanças nas vidas daqueles que formavam aquela "inteligentzia" da 7 de Setembro, alguns viajaram para outros Estados, como o próprio Alberto que radicou-se por um certo tempo no Acre, outros se retiraram das lides literárias, alguns permaneceram, porém, nunca mais aquele núcleo original voltou a se reunir como antes. Muitos casaram, outros descasaram, outros morreram, outros renasceram não nas academias mas nas suas obras. Porém cada um a seu modo, cada um no seu canto continuou escrevendo e produzindo livros e maravilhas como Alberto que nos deu uma das suas mais belas jóias literárias: Yacala, entre outros.
Meu Deus, Tupan, Zeus, Júpiter, ou outros que possuam outros nomes, falando sobre esses tempos incríveis das décadas de 70, 80 e parte dos anos 90, com todos esses personagens com os quais convivíamos, quase diariamente, como muitos deles já passaram para o outro lado, para a Espiritualidade, tais como: W. Virgolino, Hermilo Borba Filho, Roberto Aguiar, Mano Teodósio, Renato e Maximiano Carneiro Campos, Mauro Mota, Mário Souto Maior, Orlei Mesquita, Sérgio Moacir de Albuquerque e o nosso grande poeta Alberto da Cunha Melo, entre outros.
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José Alberto Tavares da Cunha Melo, nasceu em Jaboatão - PE, no dia 08 de abril de 1942. Filho do poeta Benedito da Cunha Melo, iniciou sua vida literária em Jaboatão, fazendo parte do Grupo de Jaboatão, que de acordo com o historiador Tadeu Rocha, constitue o núcleo original da Geração 65 de Escritores Pernambucanos.
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Livros publicados:
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Círculo Cósmico - 1966, Oração pelo Poema - 1967, Publicação do Corpo - 1974, Dez Poemas Políticos - 1979, Noticiário - 1979, Poemas à mão Livre - 1981, Soma de Sumos, 1983, Poemas Anteriores - 1989, Clau - 1992, Carne de Terceira com Poemas à Mão Livre - 1996, Yacala - 1999, Yacala - 2000, Um Certo Louro do Pajéu - 2001, Um Cert Jó - 2002, Meditação sob os Lajedos - 2002, Dois Caminhos e Uma Oração - 2003.
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5 comentários:

  1. Ai Marcos, você nem imagina minha emoção ao ler sobre Alberto. Não o conhecia mais de perto, sua poesia já conhecia um pouco, mas, o pouco contato que tivemos me encheu da maior admiração por sua pessoa, sim... Simples, sábio... Lembro bem quando ele prefaciou o "Salão de Sombras" de nosso pai, Waldemar Cordeiro, e sua emoção diante da poesia do nosso Dema me emocionou também.
    É raro não chorar... lendo o imortal Alberto da Cunha Melo, um dos maiores poetas brasileiros, quiçá o maior de sua geração.

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  2. Querido Marcos, o quanto é emocionante ler seu blog... Andava finalizando um livro e estava meio arredio com o tempo... Acho essa coluna "Antologia de Poetas Pernambucanos" uma das grandes contribuições à literatura brasileira dos últimos tempos em terras duartinas. E a saudade do mestre Alberto? Alberto era sensato como a embriaguez letárgica do amor; manso como a brisa do Capibaribe em dias de verão; um gênio da palavra entre os oxigenados letrados do Recife... Aprendi muito contigo e com Alberto... Você foi responsável por momentos maravilhosos ao lado de Alberto, desde os trabalhos que fizemos juntos às cachaças inevitáveis entre as tardes toscas do centro do Recife... Parabéns, mestre Cordeiro, você é uma das grandes contribuições à diversidade cultural de Pernambuco! A foto ficou ótima! Grande Abraço, Adriano Marcena.

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  3. só pra lhe dizer que tô voltando.
    abs,
    Acácio

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  4. Olá, estou procurando uma pessoa da família de meu marido, Ela era poeta e postava suas poesias no JC na década de 40. Ela usava um codinome...este codinome é que a família não tem conhecimento.

    Será que tem algum conhecimento, dos poetas dessa década, onde poderei pesquisar?

    Estou começando a fazer essa pesquisa....

    Obrigada pela atenção.

    Elisabete Rodrigues.

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    Respostas
    1. Cara Elisabete.

      Creio que só há um modo de saber: Pesquisar os exemplares do JC no Arquivo Público de Pernambuco - Rua do Imperador - Recife - PE.

      Marcos

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