11129278

11129278

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Academia Olindense de Letras - Posse de Marcos F. G. Cordeiro




Valdir de Oliveira Santos, Marcos Cordeiro e Cássio Cavalcante.


 

Olímpio Bonald, Fernando Sales, João Caixero de Vasconcelos e Lourdinha Vasconcelos


Família de Maura Gomes Raphael de Andrade



Rafaella, filha de Marcos Cordeiro e  Renato Câmara.

 

Geraldo e Rosa Guedes com Marcos Cordeiro.



Carminha Duarte, Elaine e Diogo Duarte.



Zenaide e Carla Bonald e Mirian Brindeiro.



Ângelo Rafael, Regina Pinheiro, Fernando Henrique, Adeil B. Leite, entre amigos.


Discurso de Posse de Marcos Flávio Gomes Cordeiro

na
Cadeira nº 9

Patrono: Jorge de Albuquerque Coelho


 
Sr. Presidente da Academia Olindense de Letras, Dr. Manoel Neto Teixeira.

Ilustres presidentes ou representantes das diversas academias de letras e artes de Pernambuco.

Autoridades presentes ou representadas.

            Minhas senhoras, meus senhores, meus familiares, meus amigos, senhores acadêmicos.

A vocês, humildemente peço licença para aqui chegar e tomar posse na cadeira nº 9 da Academia Olindense de Letras, cujo patrono, para minha honra e júbilo, é Jorge de Albuquerque Coelho. O mesmo Jorge que serviu de tema para o primeiro poema escrito no Brasil e que deu origem à literatura brasileira – A Prosopopéia de Bento Teixeira Pinto.



“Cantem Poetas o Poder Romano,

submetendo Nações ao jugo duro;

o Mantuano pinte o Rei Troiano,

descendo à confusão do Reino escuro;

que eu canto um Albuquerque soberano,

da Fé, da cara Pátria firme muro,

cujo valor e ser, que o Céu lhe inspira,

pode estancar a Lácia e Grega lira.


 
E vós, sublime Jorge, em quem se esmalta

a Estirpe d'Albuquerques excelente,

e cujo eco da fama corre e salta

do Carro Glacial à Zona ardente,

suspendei por agora a mente alta

dos casos vários da Olindesa gente,

e vereis vosso irmão e vós supremo

no valor abater Quirino e Remo“.



Como também, do Canto IV do meu poema épico Romançal Paranambuco:



Para cantar Pernambuco,

Olinda e seus brasões,

Bento Teixeira compôs

a saga de dois varões,

cantada em decassílabos,

forma heróica de Camões.



Da cova do mar salgado

pelas mãos do trovador,

saiu a Prosopopéia 

canto de vate e cantor,

sobre Jorge e Dom Duarte,

feitos de lutas e de dor.


 
Das terras de Pernambuco

a terras peninsulares

seguiram os dois guerreiros

vencendo lendas e mares,

domando a mão mauritana 

em outros longes lugares.


 
Na batalha de Alcácer

lutam junto os dois irmãos,

os exércitos lusitanos

são dizimados no chão, 

vencidos são pelos mouros,

se encanta o rei Sebastião.


 
Os dois heróis olindenses 

em Fez são prisioneiros.

Duarte morre no cárcere,

Jorge ao reino segue ordeiro,

já na corte lusitana

é de Olinda o herdeiro.


 
Eis o canto valoroso

de dois bravos guerreiros.

Eis o canto literário

do Brasil o primeiro,

eis o primeiro poema

do cantar brasileiro.



O mesmo Jorge de Albuquerque Coelho que era escritor, embora suas obras não tenham sido publicadas, introduziu o teatro em Pernambuco, mandando encenar, em Olinda, as peças “O rico avarento” e o “Lázaro pobre”.

JORGE DE ALBUQUERQUE COELHO é um personagem bem conhecido e fascinante da história luso-brasileira. Nasceu em Olinda a 23 de Abril de 1539 e era filho do donatário Duarte Coelho Pereira e de sua mulher, D. Brites de Albuquerque.

Mandado para Lisboa quando jovem foi aí educado, mas voltou para servir nas lutas de colonização de Pernambuco contra os índios caetés do litoral ao sertão, beirando o Rio São Francisco, nos anos de 1560-1565. Em Junho deste último ano embarcou para Portugal. Nessa viagem a nau em que viajava, foi atacada por piratas franceses e teve uma série de infelicidades e desditas descritas no “Naufragio que passou Iorge Dalboquerque Coelho, Capitão, E Governador de Paranambuco”. Em Lisboa: Impresso com licença da Sancta Inquisição por Antonio Alvarez. Anno M.CCCCCC I [1601]”.

Posteriormente, serviu ainda em Pernambuco como representante do seu irmão mais velho, o donatário Duarte de Albuquerque Coelho, partindo do Recife para Lisboa em 5 de Março de 1576. 

Em Portugal, acompanhou D. Sebastião em ambas as suas expedições à África, sendo gravemente ferido e feito prisioneiro em Alcácer Quibir, depois de haver oferecido o seu próprio cavalo ao Rei. Foi resgatado sete meses mais tarde, como um dos prisioneiros de um grupo de oitenta fidalgos libertados. Seu irmão Duarte, também aprisionado na batalha, solto em 1581, morreu de volta à casa, enquanto ainda estava no Reino do Marrocos. Jorge o sucedeu, então, na capitania de Pernambuco, onde sua mãe viveu até a sua morte aí ocorrida em 1584, mas ele nunca mais voltou ao Brasil. Casou duas vezes (1583 e 1587). Permaneceu em Portugal, escrevendo estudos e algumas memórias sobre as guerras da exploração do Brasil até sua morte no ano de 1602, pouco tempo depois da publicação da Prosopopéia. Seus dois filhos, Duarte de Albuquerque Coelho e Matias de Albuquerque, ambos se distinguiram como chefes na defesa de Pernambuco contra os invasores holandeses em 1630-1638.

Portanto, história e teatro. Dois horizontes que me fizeram trilhar o caminho das letras: Seja ele o da poesia épica ou dramática ou ainda algumas veredas e trilhas que nele se origine.

Desses caminhos, dois me levaram à Academia Olindense de Letras, trazendo de bagagem, tão somente, um pequeno cofre feito de ouro e de sentimentos. Nele trago guardado toda a minha fortuna constituída de três partes. A primeira, o meu amor e reverência por Olinda e a sua história. A segunda, minha aptidão para as artes literárias e plásticas herdadas do meu pai – Poeta Waldemar de Sousa Cordeiro e da minha mãe – Iraci Gomes Raphael de Sousa Cordeiro. A terceira meus livros publicados:


 
Vesperal da Solidão – Poesia. Edições Pirata – 1979

Naufrágio Lúcido – Poesia. Edições Pirata – 1980

Hai-kais para Rafaella -  Edições Pirata – 1982

Onde o Coração – Contos. Edições Bagaço – 1986

Nação Paranambuco – Teatro – 1996

Capibaribe do Sol – Teatro – 2004

Orfeu em África – Teatro – 2006

Romançal  Paranambuco – 2ª Edição 2007 

O pasmoso e Astuto Cão do Piutá – Teatro – 2010



E pelos Prêmios:

            Elpídio Câmara de Teatro da Fundação de Cultura Cidade do Recife de 1995, 2003, 2005, 2010.

            Edmir Domingues de Poesia da Academia Pernambucana de Letras de 2008.


Nasci entre a margem direita do Rio Moxotó e a vista exuberante da majestosa serra de Jabitacá, num pequeno sobrado do meu avô Manoel Raphael Sobrinho na minha modesta cidade de Sertânia.

Na minha casa, logo cedo me familiarizei com música e arte. Fosse a voz de barítono do meu pai cantando a Serenata de Schubert, Casinha Pequenina, Nostálgias, Siboney, ou declamando os seus poemas. Meu pai tocava sax, mas tocava também quase todo instrumento que pegasse além de solfejar uma partitura à perfeição, mesmo que nunca antes a tivesse lido.

Arte também nos bordados artísticos de minha querida mãe Iraci. Além do ambiente familiar, ouvindo a Orquestra Marajoara de Francisquinho, Demétrio e Ziro. A Banda 6 de junho do Mestre Sebas Mariano onde eu era aprendiz de clarinetista. Os dramas e shows de Dona Liu Pinheiro no Cinema Emoir, além de suas matinês dominicais.
As inesquecíveis Festas da Imaculada Conceição e dos Bailes do América Esporte Clube de Sertânia. As festas juninas no sítio São Francisco, na Fazenda Riacho do Mel em Irajaí e na Fazenda São José em Cacimbinha. As corridas de argolinhas na Vila dos Algodões. Os cantadores e violeiros na feira de Sertânia, as cantorias nas fazendas dos parentes e amigos como na Fazenda Cacimbinha dos meus tios Iaiazinha e Arcôncio Lins de Albuquerque, na Fazenda Caiçara dos Gomes do meu bisavô “Cel.” José Gomes dos Santos, na Fazenda Riacho do Mel do meu tio/avô “Major” Possidônio Gomes dos Santos, na Fazenda Conceição do poeta Ulisses Lins de Albuquerque e na Fazenda Olho D´Água de Sebastião e Antonieta Lafayette. Os passeios em Jabitacá, a antiga Varas, na Festa de N.Sra. dos Remédios, ocasião propícia para o novenário e os almoços nas Fazendas Caiçara, Morcego e Carnaíba dos primos Desembargador José Gomes Câmara e Assunção, “Cel.” Tércio Raphael e Theonas e Isauro Torres e Estélite. E o que dizer da cidade de Monteiro – PB, terra da minha mãe e dos meus tios-avós Olímpio Gomes dos Santos, Jove Raphael Gomes, Janjão Ferreira e Áurea Raphael Gomes, Philó e Francisco Torres, Santa e “Major” Napoleão Santa Cruz e Felismina Gomes dos Santos, a não ser a imensa saudade daquele tempo que continua viva e gratificante na minha memória.
Sim, eu venho lá do sertão, eu venho montado na lembrança do meu cavalo “Pavão” trazendo corona e alforjes carregados com essa herança cultural e genética da terra, do sangue e do nome dos meus bisavôs David Pereira de Sousa Ferraz e Maria Guilhermina de Sousa Ferraz de Cabrobó e Floresta do Navio, Francisco Raphael de Deus e Antônia Teixeira de Vasconcelos do Curralinho e Serrote Pintado em São José do Egito, “Cel.” José Gomes dos Santos e Honorata Arcelina de Jesus, cristã nova, nascida Teresa Brainer em Sapucarana, distrito de São José dos Bezerros, José Theodoro de Melo e Anna Amélia de Sant´Anna Freire.

Eu venho lá do sertão com a memória centrada nas utopias e nos romances de cordel, nas estórias fantásticas e casos de cangaceiros, penitentes, beatas, beatos, eremitas e santos da terra do sol.

Portanto, minhas senhoras e meus senhores, eu vim lá do sertão para estudar e como dizia minha Tia Carmelita Raphael Leite: para ser gente. Estudei no Colégio Salesiano do Sagrado Coração de Jesus no Recife, no Colégio Visconde Mauá da Faculdade de Ciências Econômicas na Av. Conde da Boa Vista no Recife, na Faculdade de Odontologia e Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco e na Escola de Zootecnia da Universidade Rural de Pernambuco. Paralelamente já havia me matriculado na Universidade Livre da Existência. Nela aprendi com a grande mestra Vida, a cultivar cultura.

A Casa do Estudante de Pernambuco, a Livro 7, o TPN, as sessões de arte do cinema São Luís, o Teatro Santa Isabel, a Fundação Nabuco, o Museu do Estado de Pernambuco, o Museu Murilo Lagreca, as inúmeras galerias de Arte do Recife, a Oficina 154 e o Sobrado 7 de Olinda, a Oficina Guaianases de Gravura na Ribeira e o MAC de Olinda, entre outros, todos esses espaços foram salas de aula para mim.
Diplomado pela vida optei pela paleta e pelas letras. Deixei minha rubrica em diversas pinturas, desenhos, murais e livros. Após residir no Recife, no bairro do Derby e da Boa Vista, acompanhei minha família, vindo residir no Sítio Histórico de Olinda em 1966. Vindo para Olinda vim habitar num cenário onde aconteceram e acontecem fatos marcantes da História e da Cultura do nosso Pernambuco.



Altas noites de silêncio,

sons de antigos mistérios,

os ventos tocando harpas

no alto dos monastérios.

Nos coqueirais de Olinda

Se ouve odes, saltérios.


 
Olinda é Mãe da República,

da linhagem mais seleta.

As suas sete colinas

lhe dão a legenda e a meta.

Terra irmã da liberdade,

musa casta dos poetas.



Olinda, seu seminário

é nobre escola de bravos,

em seu claustro sagrado

há heróis, não há escravos,

seus ideais libertários

lhe valem rosas e cravos.


 
Olinda tem seus conventos

em suas velhas ladeiras.

Nos mosteiros seculares

transitam frades e freiras.

Sob o céu da liberdade 

seu nome é sua bandeira.

Aqui chegando, não só respirei o cheiro dos jasmins e dos bugaris dos seus jardins, aqui chegando respirei história e poesia, e nesse ambiente barroco e venerando de Pernambuco, tirei o meu passaporte para a vida e agora nessa Academia compartilho os meus sonhos com os meus pares e com todos vocês que hoje testemunham o meu ingresso definitivo na alma e na história de Olinda. Para encerrar essas breves considerações eis a minha senha para aqui sentar e poder dizer:

Sobre sete colinas

em bela situação,

à beira do mar antigo

ouviu-se uma exclamação:

“... para uma bela cidade

ó linda situação!...”


 
Disse D. Duarte Coelho 

o primeiro donatário

ficando Olinda criada

qual um santo relicário

do sangue pernambucano,

do seu sangue libertário.


 
Tendo aos pés o mar imenso

Olinda é filha das ondas,

miradouro de Ondinas

e de Netunos em ronda

sobre os corais do Atlântico

onde o vagalhão estronda.


 
Em Olinda tem Ondinas

nas noites de lua cheia,

passeando nas colinas

sob o canto das sereias

que se encantam em meninas

quando na praia passeiam.



Olinda, 11 de agosto de 2012.

Marcos Flávio Gomes Cordeiro



4 comentários:

  1. Encantadora a apresentação. Aproveito para perguntar, seguro de que obterei a resposta: O dr. Jarbas Cardoso de Albuquerque Maranhão foi acadêmico dessa briosa Academia? Caso sim, qual a data de posse e o nº da cadeira, com o nome do respectivo patrono. Grato, 24 10 15.

    ResponderExcluir
  2. Encantadora a apresentação. Aproveito para perguntar, seguro de que obterei a resposta: O dr. Jarbas Cardoso de Albuquerque Maranhão foi acadêmico dessa briosa Academia? Caso sim, qual a data de posse e o nº da cadeira, com o nome do respectivo patrono. Grato, 24 10 15.

    ResponderExcluir
  3. Encantadora a apresentação. Aproveito para perguntar, seguro de que obterei a resposta: O dr. Jarbas Cardoso de Albuquerque Maranhão foi acadêmico dessa briosa Academia? Caso sim, qual a data de posse e o nº da cadeira, com o nome do respectivo patrono. Grato, 24 10 15.

    ResponderExcluir
  4. Encantadora a apresentação. Aproveito para perguntar, seguro de que obterei a resposta: O dr. Jarbas Cardoso de Albuquerque Maranhão foi acadêmico dessa briosa Academia? Caso sim, qual a data de posse e o nº da cadeira, com o nome do respectivo patrono. Grato, 24 10 15.

    ResponderExcluir