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domingo, 30 de dezembro de 2012

Lançamento do meu Auto "O Pasmoso e Travesso Cão do Piutá" - Prêmio Elpidio Câmara de Teatro de 2010 - Forte das 5 Pontas - Recife - PE

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 




 



O astuto e pasmoso Cão do Piutá

Desde criança em Sertânia, eu ouvia bastante intrigado, diversas pessoas falarem: “Aquela peste parece que está com o Cão do Piutá”, ”Aquele danado só pode ser o cão do Piutá”. ”Estás com o Cão do Pìutá, bicho ruim?”, ”Isso só pode ser coisa do Cão do Piutá”. Sem entender direito eu imaginava mil coisas e situações sobre aquele “Cão” tão vilipendiado e temido pela maioria das pessoas. Entre medroso e curioso eu perguntava a um e outro sobre aquele “Cão” que atiçava a minha curiosidade e de grande parte das pessoas conhecidas. Cada um apresentava uma definição distinta sobre aquele personagem tão famoso na Vila de Algodões no vale do Rio Piutá em Sertânia e demais municípios de todo o Moxotó e Pajeú. Pelo que eu percebia havia uma notável unanimidade sobre o famoso “Mal-assombro” - o medo generalizado daquele estranho e fascinante personagem que habitava, na qualidade de morador, um modesto rancho numa Fazenda do Vale do Rio Piutá. Durante muito tempo aquela estória do “Cão do Piutá” permaneceu adormecida no meu subconsciente como uma grande interrogação até o dia da festa de São Sebastião em Algodões, em meados dos anos 70. Passando uns dias na minha Sertânia, aceitei o convite do saudoso Prefeito – Dr. Guido Chaves Feitosa, para comparecer com outros convidados à festa de São Sebastião em Algodões, ocasião propícia para assistir à bonita cavalhada da vila e os demais festejos religiosos e mundanos da data magna do simpático distrito sertaniense. Após a procissão de São Sebastião que marcava o encerramento dos festejos, acompanhado dos demais convidados, me dirigi à Fazenda de Guido para um delicioso almoço sertanejo constituído de buchada, assado de bode e carneiro, galinha de capoeira, guiné, pato gamela, mão de vaca, pirão, arroz de festa, xerém, cuscuz e outras delícias da região. Depois de alguns goles de um bom vinho, repentinamente me veio a lembrança das estórias e lendas do “Cão do Piutá” com toda a sua carga de interrogações e medos. Após interrogá-lo, o meu saudoso amigo Guido, sorridente e bem humorado, como era do seu feitio, me contou quase tudo o que se dizia ali na ribeira do Piutá sobre o famoso “mal-assombro” para uns e “Cão” para outros. Começou me dizendo que ele era um morador de uma Fazenda próxima dali da sua e que se chamava Ambrósio. Entre um e outro brinde todos os presentes ouviam encantados a estória e as peripécias do pasmoso e astuto Ambrósio. A sua sensibilidade. O seu poder de adivinhar. As suas predições e as suas temidas revelações que apavoravam todos aqueles que haviam praticado algo de errado ou condenável pelas leis dos homens e de Deus.

“Meu senhor nos dê licença
para cantar uns sucedidos
de um vaqueiro danado
que revela os escondidos
de todo pobre vivente,
seus pecados cometidos.”

“De dia parece um macaco
de noite em onça se vira,
tem rabo e tem quatro patas
dá coice e mijo transpira.
É gato arisco e ligeiro,
se vê um, as tripas tira”

“Eu sou a onça vermelha
do sertão do Moxotó.
Só bebo água da chuva,
como ticaca ou mocó.
No Piutá faço assombros
de cagar o mocotó”

O Teatro como a mais viva das formas de arte, torna-se o veiculo mais apropriado para dar vida e veracidade a uma estória oral, quase uma lenda que de há muito tempo faz parte da cultura e do inconsciente dos habitantes da ribeira do Piutá.

Sou filho da onça parda
e neto do dragão do mar.
Mato, esfolo e cuspo chumbo
a quem me queira pegar.
Não temo qualquer valente
é só me ver e se cagar.

O sertão é o meu reino,
terra de sol e de sal.
Sou o rei dos cangaceiros,
sou de instinto brutal.
No meu Estado-maior
tem coiteiro e general.

As muitas façanhas de Ambrósio ou do “Cão do Piutá”, relatadas por Guido, deram origem ao presente Auto, que tenho o prazer de oferecer a sua memória, também me deram a oportunidade de mais uma vez ser distinguido com o Prêmio Elpídio Câmara de Dramaturgia dos Prêmios Literários Cidade do Recife – Edição 2010.

Marcos Cordeiro – Olinda 2012.

Um comentário:

  1. Lamentei pela ausência, minha e de Fátima, de mais um elo da sua obra.
    Estávamos em Primavera, com Alisson (filho) que vive em Viçosa,MG., aproveitando para restaurar as energias com as aulas, ao longo de 2012.
    Vamos marcar seu retorno a Primavera.

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