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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sinhás pernambucanas - Felismina Gomes dos Santos

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Sinhá Dona Felismina Gomes dos Santos


Minhas avós, infelizmente, não as conheci. A avó materna – Leonila Gomes Raphael, e a paterna – Maria de Souza Ferraz Cordeiro.
Delas conheço umas poucas fotos e cartas. Uma carta da avó Leonila para a minha tia Anunciada Gomes Câmara e outra da avó Mariquinha ou Maria para minha mãe Iraci. Porém, conheci uma tia-avó, entre outras tias-avós, que foi como uma verdadeira avó materna de tão próxima era ela da minha mãe e das minhas irmãs, principalmente Maria do Carmo que viveu parte da sua infância em sua companhia. Era ela Felismina Gomes dos Santos ou Nenen como a chamávamos carinhosamente. Com a sua bondade e dedicação supriu em parte, para nós, a ausência da sua irmã Leonila.

Conheci Nenen em Monteiro – PB, onde ela vivia desde que saíra da velha e patriarcal Fazenda Caiçara dos Gomes em Jabitacá – PE, onde viveu a maior parte da sua vida em companhia de seus pais, meus bisavós, Dona Honorata Arcelina de Jesus e o Coronel José Gomes dos Santos.

Outras vezes encontrei-a, tanto quando ia ao Monteiro ou quando ela estava de passagem por Sertânia a caminho de Jabitacá ou Recife. Celibatária convicta, Nenen era bastante religiosa e dedicada à Igreja Católica, na qual era membro da Irmandade do Coração de Jesus.
Nenen foi uma segunda mãe para a minha tia Carmelita (Belita) Gomes Raphael Leite, que foi criada com a avó Honorata (Mãe Velha) na Faenda Caiçara, juntamente com o primo/irmão José Gomes Câmara, e desde então Nenen a ela se apegara, Mas, era bem próxima também das outras sobrinhas, filhas da irmã Leonila.
Ao contrário de seus irmãos e irmãs, nascidos em São Caetano no Agreste pernambucano, ela e Leonila, as mais jovens, nasceram na Fazenda Caiçara, então Município de Afogados da Ingazeira. Lá mesmo, ante a paisagem memorável e saudosa da Serra Branca e da Serra da Carnaíba, aprendeu as primeiras letras e as demais artes tradicionais da mesa, da culinária, dos bordados e das costuras, como convinha a toda moça de família patriarcal, com a sua mãe Honorata.
Apesar de bastante reservada e silenciosa, conta-se que cultivou uma grande paixão por um jovem de distinta família, a qual não se concretizou devido a empecilhos que poderiam ter sido perfeitamente contornados não fosse o orgulho de família e a timidez tão comuns naquela época. Discreta, cultivou aquele amor como um jardim invisível que, certamente, perfumou a sua vida e a sua solidão até a sua morte, ainda sexagenária, em Monteiro.
Segundo depoimento de minha irmã que com ela viveu algum tempo, Nenen, apesar da aparência fechada, era-lhe muito afeiçoada, e da infância é do seu carinho e dedicação que guarda a melhor lembrança...
Querida e respeitada pelos numerosos irmãos e irmãs, Nenen era dotada de grande autoridade e força moral. Através das fotos dos álbuns da família, temos raras fotos de Nenen em passeios com Belita pelo Recife, Maceió, Jabitacá e Sertânia, quase sempre em discretas aparições.
De suas heranças, que as teve de terras e gados e alguns outros mimos, para os pósteros legou, além das poucas fotos, três jóias herdadas de Honorata, pelo seu inesquecível valor e sabor: O queijo de manteiga feito no fundo de um saco de algodão, próprio para isso; o inimitável doce de batata-doce e o dourado bolo grude, feito da “goma” da mandioca, coco, leite, açúcar, saudades e afeto, bem típico na região sertaneja de Pernambuco.
Ah! Foram delícias que o insano tempo não levou, pelo menos da memória de quantos as saborearam e da minha lembrança que afetivamente guardei para que hoje, agradecido e saudoso a eternize nesta página.
Se viva fosse, Nenen faria hoje, 1° de agosto, 126 anos.
Obrigado Nenen, por ter te conhecido.
Obrigado Nenen por ter saboreado suas inesquecíveis criações culinárias.

Olinda, 1 de agosto de 2011