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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

TEREZA TENÓRIO - ANTOLOGIA DE POETAS PERNAMBUCANOS

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 




Francisca Teresa Tenório de Albuquerque

 

 

 

Voragem

 

 

Eu preciso de ti

                            Amor

                                      O dia

acende a tatuagem em minha pele

como uma doida voragem sobre a fria

estrada desolada

                            São vazias

as minhas mãos em ti

                                      horizontais

nossos corpos em muitas geografias

de sangue e nervos

                                      Ardem litorais

Eu preciso de ti

                            Amor

                                      um dia

sem palavras ou gestos

                                      terminais.

 

 

 
Geografia da origem
 
 
os litorais sonhados pelos pássaros
são os caminhos e fusos da Cidade
a sólida estrutura de calcário
cristais-de-rocha argila ferro mármore.
 
mais micro-organismos palpitantes
mercuriais nos veios dessas árvores
onde alguém soterrou os alicerces
dos santuários casario e chaves
 
das águas a afogar fósseis e ossais
repousando as marés ao som das âncoras
nos arrecifes Todos voltam ao cais
adormecido pássaro da sombra

 

 
 
 
Dos Afogados do Recife
 
 
Esta dama do mar rasgou os seios
e a febre consumiu a seiva e a lágrima
Imerso em maresia o rosto líquido
buscou dentro da noite os afogados
 
À textura da pele luminosa
barqueiros ribeirinhos naufragavam
Seus úmidos interiores cheiram a musgo
baronesas e aquáticos nenúfares
 
Esta dama do mar ardeu-se à sombra
da nossa fome e ausência de Paixão
Adormecida à luz da lua sonha
 
que nascem dos seus flancos pontes cálidas
sobre os rios acesos do verão
quando ela sensual retorna às àguas

 

 

 

CORPO DA TERRA

 

 

Pela janela o verde

                              nos revela

 o coração da mata acesa

                                       o úmido

 veio das aromáticas

                              resinas

 dentre nossas raízes

                              enlaçadas

 a destilar a essência

                              do teu hálito

 em mim

             corpo da terra

                                 desvelado

 

 

MARINHA


 Dentro da noite marinha

 dispo minha carne macia

 retorno ao mar. Sou sereia

 filha da última estrela

 acesa no início do dia.

 

 Acesa forma marinha

 meus olhos flutuam líquidos

 sobre teu rosto de nauta.

 Busco o Amor, peixe de prata,

 em teu olhar tão sombrio.

 

 Em teu olhar, ser marinho,

 espelho meu, maresia,

 meus cabelos negras algas

 envolvem tua pele alva

 penetram tua fantasia.

 

 

 

TEREZA TENÓRIO - Francisca Tereza Tenório de Albuquerque nasceu no Recife, Pernambuco. Cursou Direito, Belas Artes e Mestrado de Letras. Publicou, entre outros títulos, Parábola, Editora Imprensa Universitária, Recife/PE, 1970; O círculo e a pirâmide, Editora Quíron, SP, 1976; Mandala, Editora Civilização Brasileira, RJ, 1980; Noturno selvagem, Editora Pirata, Recife/PE, 1981; Poemaceso (detentor de três prêmios: Associação Paulista de Críticos e Arte, UBE do Rio de Janeiro, e Fundação de Cultura de Recife/PE), Editora Philobiblion, RJ, 1985; Corpo da terra, Editora Tempo Brasileiro, RJ, 1994; Fábula do Abismo, Editora Bagaço, Recife/PE, 2002. Pela Blocos participou da Saciedade impressa, vol. VIII. Seus poemas foram traduzidos e publicados no México, Itália e Coréia. Críticos renomados analisam sua obra, inclusive Pedro Lyra, que a considera um dos expoentes da Geração 65.

 

Teve seus primeiros poemas publicados pelo poeta César Leal no Suplemento Literário do Diário de Pernambuco. Normalmente considerada a musa da Geração 65, publicou oito livros de poesia, entre os quais POEMACESO, prêmios de 1985 da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro e indicação para participar da mostra realizada no Porto e no Valongo em 1994, através do Projeto CumpliCidades dos Governos de Portugal e do Brasil. Detentora do prêmio de Poesia Dramatizada da Fundação de Cultura Cidade do Recife em 1992, foi considerada Autora do Ano de 1999 pela Editora Universum de Trento-Itália. Colaboradora de jornais e revistas oficiais e alternativos, nacionais e estrangeiros, participa de antologias poéticas na França, Itália e Portugal, essa última comemorativa dos quinhentos anos de descoberta do Brasil da Revista Semestral de Cultura ANTO - N° 3 - Primavera, Edições Tâmega, 1998, Amarante. Homenageada pelo Projeto Poesia 96 da Secretaria de Cultura de São Paulo. Foi diretora de cultura e eventos da União Brasileira de Escritores de Pernambuco, foi sócia das seções do Rio de Janeiro e São Paulo da UBE, além do Sindicato de Escritores do Rio de Janeiro, da IWA - International Writers and Artists Association de Bluffton, USA, da Academia de Letras e Artes do Nordeste, onde ocupa a cadeira 21, e Internacional de Literatura e Artes e Sociedade dos Poetas Vivos. Foi advogada e integrante de movimentos contra a violência. Atualmente, devido a problemas de saúde, encontra-se afastada do meio literário.

 

 

Aurora Duarte – a bela Diva - ANTOLOGIA DE POETAS PERNAMBUCANOS

 
 
 
 
 


 

   

 

 
  
 
 
 

A Rosa Convicta

 

Ante a fúria do mar e em fundo espelho,

hei de pintar meus olhos de infinito.

Depois, no corpo quieta traçarei

limpas cores do céu e chuva e sol:

pois meus seios são aves prematuras

que entre gestos e orvalho guardarei.

 

Mas, por ser bela eu hei de ser sózinha

porque o espanto e a ternura tem moradas

em chão diverso e de diverso intento.

Mas por se bela me liguei ao tempo

e por ser bela girarei sorrindo

entre os raios de sol e o cata-vento.

 
 
 


Asas Invisíveis
 
 
 
 

Nem complexa

nem abstrata

porque exata

prefiro ser.

Sou mulher

mas serei pássaro

porque pássaro

já fui.

Fugirei do litoral.

Quero o espaço

sem calendários.

Intocável permanecerei.

 



Penitências

 

Principiei pássaro

mutilaram-me as asas,

continuei a voar;

abatida por piratas

de veleiros escondidos

entre nuvens e luar,

fui mastro e vela,

fogo de santelmo e concha

quando era ânsia

e notívaga vivia sonhos.

 

Entre lumes e vazantes

feriram-me no corpo

pois inquietas tenho

flechas no meu canto.

 

Canto e me vem o canto

dessas cavernas onde vive o vento.

 

Agora ave, para sempre ave

voando entre

mistérios – sol e céu -,

deixando plumas, pés e canto,

no que me resta vou além voando.

 

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Aurora Duarte – a bela Diva
Atriz, poetisa  produtora e diretora de cinema, Aurora Duarte, nascida Diva Mattos Perez em 17 de Abril de 1933 em Olinda, Pernambuco

Quando criança, Aurora Duarte brincava com os pedaços de filme “Paixão de Cristo”. Adolescente, conheceu um francês que fazia filmagens para Walt Disney e ela começou a ajudá-lo na produção. Na mesma época, entrou para a Associação de Cinegrafistas Amadores do Brasil e fez um filme, “A Sereia e o Mar”. Ela foi a sereia, diretora, roteirista e fotógrafa desse filme. Esse filme, feito quando Aurora tinha entre 13 e 14 anos, deu-lhe popularidade. Com essa idade, começou, também, a publicar suas poesias em jornais.

Em 1953, estrelou o filme "O Canto do Mar", de Alberto Cavalcanti. Com o sucesso do filme, Aurora Duarte mudou-se para o Rio de Janeiro e, em seguida para São Paulo, onde filmou "Os Três Garimpeiros", ao lado de Hélio Souto e Alberto Ruschell.

Em 1960, produziu e atuou no filme "A Morte Comanda o Cangaço", dirigida por Carlos Coimbra.

Ficou afastada do cinema por um longo período e retornou em 1982 para uma participação no filme "Noites Paraguaias".
 
Livro: O pássaro e o Náufrago - 1964